quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A CHUVA (Jorge Luis Borges - poeta argentino)


A tarde bruscamente se aclarou,
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo freqüentou.

Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.

Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto

que não existe mais. A umedecida
tarde me traz a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não é morto.

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