quarta-feira, 27 de agosto de 2008

SONETO AUGUSTINIANO (Rafael Nunes)


Meu verso é sangue.
- Manuel Bandeira-


A Wildes Dias


Por me deitar assim à sombra estreita
Da arvore doce que me colhe cauto,
Me embrulho com o abismo que espreita
A luz morta das trevas de basalto.

E como um rio pos a chuva revolto
Na rutilância ébria do meu peito,
Que se embriaga da margem, mesmo afeito,
Sobre as pedras do teu caminho incauto.

E no rigor da trova lauto escuro
Crio a dor como às águas o obscuro
Frente a um deus que no mar remoto incita...

Nos desvãos, no silêncio me procuro,
Nas suplicas do fosso, no verso impuro,
Baudelairiano é o ópio que em mim habita.

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