sexta-feira, 29 de maio de 2009

O DESFECHO (Machado de Assis)


Prometeu sacudiu os braços manietados

e súplice pediu a eterna compaixão,

ao ver o desfilar dos séculos que vão

pausadamente, como um dobre de finados.


Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,

uns cingidos de luz, outros ensangüentados...

Súbito, sacudindo as asas de tufão,

fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.


Pela primeira vez a víscera do herói,

que a imensa ave do céu perpetuamente rói,

deixou de renascer às raivas que a consomem.


Uma invisível mão as cadeias dilui;

frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;

acabara o suplício e acabara o homem.

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